Perguntas por Fiona (Survival) aos Kaiowa que vão a Veneza
Que gostaram e o que não gostaram da experiência de ser ator e de participar no filme? Houve uma parte que gostaram mais? Houve uma parte que não gostaram?
Foram unânimes em afirmar que foi uma experiência extraordinária. Da qual gostaram muito. Não tem o que destacam mais ou menos. A experiência como um todo lhes foi especial, dizem. Ambrósio diz que “seu sonho era que um dia faria um trabalho desses, de ator; realizei meu sonho”. Diz ainda: “o trabalho que pego, pego porque gosto; não tem, não pode existir desgosto”.
Que acharam quando viram o filme inteiro por primeira vez? Foi a primeira vez que viram um filme?
A primeira vez que o verão será em Veneza. Nunca foram a uma sala de cinema. Ambrósio disse ter ido uma única vez, em Campo Grande, há muitos anos: “até me assustei, mas não tinha para onde correr”.
O que esperam que o filme lhes trará e para os Guarani?
Esperam algum resultado concreto, para todo o povo. E como disse um de seus mais respeitados ñanderus da atualidade, Ataná Teixeira, atualmente residindo na Reserva Indígena do Limão Verde (Amambai, MS), durante as filmagens, acompanhadas e assessoradas, por ele e outras lideranças da Reserva Indígena de Dourados, do Guyra Roka e do Panambizinho, esperam que o filme seja motivo de orgulho e de auto estima, sobretudo aos jovens e crianças, de seu povo. Ambrósio diz que espera a demarcação de suas terras. Que tenha justiça para os Kaiowa/Guarani. “Tem justiça – a justiça dos karaí (branco) - contra o índio; a favor não vejo; quando o índio vai reclamar não respeitam; o principal que espero: a terra e a justiça; o demais a gente corre atrás; e também para os Kaiowa/Guarani que virão (que vão nascer) o filme também vai contar muito dessa nossa história de hoje; o filme é um caminho, como um dia que vem amanhecendo, com o brilho do sol, para todos, para as famílias”.
Porque querem viajar a Europa e o que esperam fazer lá?
É a primeira vez de uma viagem assim, para o exterior. Querem também conhecer, outras línguas, outras culturas. Querem falar de sua história, de sua realidade. Entendem que somente eles, que vivem nas Reservas Indígenas, podem falar desta realidade. Pensam que as pessoas querem conhecê-los, como Kaiowa, como Guarani, e eles querem conhecer outros povos, outras pessoas. Têm muita coisa que querem contar, e fica guardada… O filme conta um pouco desta história. Ambrósio: “sonho de mostrar o trabalho que fizemos para o mundo; como nós Kaiowa vive, luta, a luta pela retomada; quando era mita’i (menino) sonhava que andava dentro de um carrinho de plástico; foi feito para aprender – então vou aprender, disse, e aprendi”. Ambrósio diz que quer viajar para acompanhar o filme e ver se tem realizações ou não. Diz acreditar que lhes trarão muitos recursos, para os Kaiowa/Guarani.
Porque é importante o mundo branco ou o mundo não indígena conhecer de perto o povo Guarani através do filme?
Porque mostra a realidade. Só assim para o branco ver. Ele entra na Reserva e vê tudo simples, “normal”. Mas não é assim. É como no filme.
O branco, geralmente, entra como um fotógrafo: tira a foto e vai embora. E eles ficam ali, parados. Como num zoológico! E têm ainda aqueles que pedem para eles se “vestirem como índios”, para tirarem suas fotos.
Eles, os Kaiowa e Guarani, também “pesquisam” o mundo dos brancos e levam o resultado para o seu povo.
Querem “seriedade”.
“Branco só mostra coisa feia; não mostra o que tem que ser feito, o que tem que ser mudado”. Falam em desnutrição, então todos são desnutridos. Mas não resolve. Ainda culpam os pais e as mães dos pequenos indiozinhos. Não falam da falta da terra. Da devastação que fizeram. Da falta de trabalho e de oportunidades. Sem floresta, sem matas. Não tem mais os animais. Não tem mais como fazer o “kunumi pepy” (ritual de iniciação dos meninos kaiowa, conhecido também como “fura-lábios”).
Conhecer para entender! E quem quiser ajudar, saber como. Para “abrir os olhos!”
Qual é a “mensagem” que querem transmitir para o mundo branco através do filme?
Que sempre terão esperança. Que demarquem suas terras. Que viverão para sempre. Através de seus netos e bisnetos.
Que todos os “índios” tem que ter oportunidades.
Que todos devem ter oportunidade de conhecer a vida dos outros.
Esperam ser valorizados, como iguais, tão importantes como qualquer outro povo. Sentem-se discriminados.
Desejam mostrar um pouco do bonito que possuem, que tem, sua cultura, seus costumes e esperam que sejam considerados e respeitados por isso. Ambrósio diz que a “mensagem depende de quem a recebe; pode ser que nos achem bonito e acabou; depende da pessoa de cada um”. Espera que vejam um pouquinho da vivência dos Kaiowa/Guarani.