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Drama das selvas salva participação brasileira

Jornal do Brasil - 2 setembro

prensa em português

Carlos Heli de Almeida

Birdwatchers’, de Marco Bechis, conquista a crítica

VENEZA, ITÁLIA

Ainda atordoada com as vaias e as péssimas críticas a Plastic city, a participação brasileira no 65º Festival de Veneza foi redimida ontem pelo ítalo-brasileiro Birdwatchers, longa-metragem sobre a problemática dos índios guarani-caiowà. Co-produzido pela Gullane Filmes – a mesma de Plastic city – e rodado inteiramente no Mato Grosso do Sul, o filme, dirigido pelo chileno radicado na Itália Marco Bechis, foi recebido com palmas e elogios ontem em sua primeira exibição para a imprensa, tornando-se o primeiro sério candidato a prêmios.

Birdwatchers acompanha os movimentos de um grupo de índios que decide deixar a reserva demarcada pelo governo e ocupar a terra de seus ancestrais, hoje administrada por um rico fazendeiro de produtos transgênicos. De forma sóbria e realista, o filme aborda questões nunca exploradas no cinema nacional ou estrangeiro, como a alta taxa de suicídios entre jovens indígenas, estimulada pela falta de perspectivas, e o conflito entre tradições culturais e o contato com o homem branco. O longa chega ao circuito comercial italiano amanhã, em 55 cópias. O lançamento no Brasil está agendado para dezembro, depois de ser exibido no Festival do Rio e na Mostra Internacional de São Paulo.

“Somos iguais a vocês brancos”

O ponto alto da coletiva de imprensa que se seguiu à projeção foi o veemente depoimento de Eliane Juca da Silva, atriz indígena da produção, que conta também com a atuação de Leonardo Medeiros e Matheus Nachtergaele.

– Estou aqui, mas minha cabeça está lá com a nossa gente. Os fazendeiros pensam que somos invasores, mas só queremos um pedaço de terra para plantar – esclareceu Eliane. – Não há mais florestas, não há mais rios para pescar, nossos jovens não têm oportunidade alguma. Mas somos iguais a vocês, nos vestimos e comemos como vocês, brancos, e tenho esperança de que nossa cultura possa ser respeitada.

Na história, Leonardo Medeiros interpreta o rico fazendeiro, que não vê com bons olhos o acampamento de índios nos limites de suas terras. As tentativas de interação pacífica entre brancos e indígenas se realizam apenas no nível da exploração econômica ou sexual. Enquanto isso, a mulher do agricultor recebe visitas de turistas estrangeiros em sua casa, que vão à região para observar pássaros exóticos. O pajé Ambrósio Vilhalva, que empresta ao filme sua experiência como líder de um movimento de ocupação, vociferou que, no Brasil, “só há justiça para os grandes empresários”.

– Para esses há juízes, tem governo. Para o índio, para o pobre e para o negro, não – desabafou Vilhalva. – Conheci um índio de 19 anos que se suicidou e deixou a mulher grávida. Ele me perguntava: “Cacique, como vamos sustentar um filho?”. Pedi calma, mas ele não agüentou a pressão.

Bechis, que escreveu o roteiro com o brasileiro Luiz Bolognesi (Chega de saudade) após anos de pesquisa, diz-se descrente de solução.

– O poder da indústria agrícola é grande – lamentou o diretor. – O desmatamento é selvagem. Só 2% do território do Mato Grosso do Sul ainda são ocupados por florestas.

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ufficio stampa_3 September, 2008

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