Filme sobre índios guaranis se destaca em Veneza
Folha - 1 setembro
da France Presse
A luta dos índios guaranis para manter a sua identidade na sociedade brasileira e o desespero que os leva ao suicídio nas reservas onde são forçados a viver emocionou a Mostra de Veneza com “Birdwatchers”, que entrou na disputa pelo Leão de Ouro nesta segunda-feira.
Treze dos 21 filmes na competição pelos prêmios que serão entregues no dia 6 de setembro pelo presidente do Juri, o cineasta alemão Wim Wenders, já foram exibidos.
Poucos agradaram nessa 65ª edição, que até o momento se mostrou decepcionante, de acordo com muitos críticos.
Elogios
Nesta segunda-feira, a animação “Ponyo on the Cliff by the Sea”, do japonês Hayao Miyazaki, recebeu muitos elogios, tanto dos críticos como do grande público, cujas impressões foram reunidas pela revista do festival, a Ciak.
Terceiro dos quatro filmes italianos em competição este ano, que teve uma seleção muito “nacionalista”, segundo a revista alemã Der Spiegel, “Birdwatchers”, do ítalo-argentino Marco Bechis, foi bem recebido.
Um barco parado em silêncio em um rio, no coração de uma floresta do Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira do Brasil com o Paraguai. Turistas o observam, de joelhos e em silêncio, um grupo de indígenas que ocupa o barco, rostos pintados de vermelho, arco-e-flecha preparados. Depois os índios retornam para a floresta, onde recebem uma recompensa por essa pequena apresentação etnográfica, enquanto as pinturas rituais são retiradas dando lugar a jeans e camisetas.
Essa cena inicial dá o tom: “Birdwatchers” mostra o outro lado da exploração, mas também o fascínio recíproco que, na região, liga os guaranis aos descendentes dos colonos, hoje proprietários de vastas plantações de soja transgênica.
O filme acompanha a revolta iniciada pelo chefe Nadio (Ambrosio Vilhalva) que, após o suicídio de dois adolescentes, decide retornar com algumas famílias para a “terra dos ancestrais”.
Eles acampam ao longo de uma vasta propriedade de um poderoso fazendeiro e são vigiados dia e noite por um capataz armado.
Evitando qualquer maniqueísmo, Marco Bechis descreve finamente o conflito que se instaura, feito de intimidações e de esquivas, mas também de tentativas de aproximações, em particular a relação entre Osvaldo (Abrisio da Silva Pedro), aprendiz de pajé, e a filha do proprietário.
Bechis mostra o impasse no qual se encontra uma população privada da floresta, hoje em grande parte devastada e ocupada, que permitiria que os indígenas mantivessem sua cultura ancestral.
A música barroca do filme foi composta no século 18 por um missionário jesuíta que foi para a América cristianizar os guaranis, explicou o cineasta, que realizou pesquisas com a ajuda da ONG Guarani-Kaiowa Survival.
“Os guaranis-kaiowa sobreviveram a um dos maiores genocídios da História”, afirmou Marco Bechis, autor em 1999 de “Garage olimpo” que aborda as torturas praticadas pela ditatura argentina (1976-1983).
Ritmo lento
Nesta segunda-feira, a Mostra exibiu dois outros filmes em competição.
“Milk”, dos turcos Semih Kaplanoglu e Melih Selçuk, que conta a vida de Yusuf, um jovem amante da poesia que vive com sua mãe viúva e a ajuda a produzir queijos no campo.
Em ritmo lento, “Milk” não empolgou grande parte dos espectadores. O norte-americano “Vegas: based on a true story”, de Amir Naderi, mostra a decadência de uma família pobre de Las Vegas, convencida de que possui um tesouro enterrado em seu jardim. Essa pequena tragicomédia original seria mais adequada para um curta-metragem, segundo o consenso geral.
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